13.12.11

Ano de bugalhos, ano de trabalhos

Nas festas de aniversário para além de darmos os parabéns aos aniversariantes, muitas vezes recordamos episódios e momentos vividos em comum. Às vezes também falamos do Futuro, muitas vezes mais em tom de desejo do que em planos concretos. É assim com pessoas, mas também com instituições. Quando é com instituições, o convívio faz-se entre instituições, muito embora saibamos que estas só se fazem com pessoas e as histórias trocadas sejam episódios de vidas humanas. No último aniversário de uma instituição em que estive presente, também em representação da Câmara Municipal, fiz pois um pequeno balanço dessa minha relação com instituições como a aniversariante que, no caso, era uma associação cultural que vive na nossa Cidade há 111 anos, a SOIR, Sociedade Operária de Instrução e Recreio Joaquim António d’ Aguiar. Neste último ano tiveram estas associações comigo e com a Câmara Municipal uma relação difícil, constante mas agitada, desencontrada por vezes mas com um respeito que nestes momentos de festa se reata, num gesto que diria quase natural de cordialidade, substantivo que tem na sua origem a mesma raiz de coração. Foi um «ano de bugalhos», pois como diz o Povo «Ano de bugalhos, ano de trabalhos». Trago-vos pois o último troço da minha conversa, em forma de discurso, que com eles tive na sua festa de aniversário, e que diz assim:
«Não cedemos nunca aos coros de tantas vozes que os senhores bem conhecem e que, se calhar de forma mais em surdina e sussurrada do que as que vos apoiam, vos vão chamando de “subsídio-dependentes” e reclamando que acabem convosco. São esses os que nunca assistem aos vossos espetáculos, os que mesmo em dias em que vários de vós têm em simultâneo atividades em diferentes áreas continuam a dizer que não se passa nada em Évora. São esses que, numa concordância que seria fácil se quiséssemos ceder a populismos, nós também combatemos, porque sabemos que sem conhecer é muito fácil falar, mas também é fácil errar juízos. E também é por isso que mesmo não seguindo princípios ideológicos ou de interesses de grupo, que muitas vezes orientam as atividades de muitas das associações e instituições deste Concelho, este nunca poderia ser por si só um fator a ponderar por nós. Pena é que muitas vezes na contestação ao desempenho das minhas funções essa, pareça pelo menos, ser uma forma de atuação. Para mim a Cultura não tem cor política, nem valores discriminatórios, e respeita a variedade e multiplicidade de gostos de quem a faz e de quem a recebe, apesar de eu achar que a atividade artística, uma das partes de fazer Cultura, tenha sempre um triplo papel estético, ético e político.
Bem sei que o que digo são só palavras a fazerem falar as ideias. Os gestos, muitas vezes, traduzem-nas a condizer, outras vezes não, sem que por isso se imputem culpas a quem as diz e tem, ou a quem as ouve e delas discorda. Mas o caminho que nos espera para percorrermos será sempre mais fácil, ou menos difícil, se a boa-fé que todos temos andar lado a lado num mesmo objetivo: servir a comunidade, acreditando no que fazemos.» Foi assim o final desta festa de aniversário.