14.6.11

Lições da campanha (crónica da Rádio Diana, 14.06.2011)

Vou ainda falar das eleições porque esta foi a campanha eleitoral em que estive mais atenta a debates, comentários, reportagens, o que fez com que aprendesse um pouco mais sobre uma parte da vida.
As eleições representam para mim uma conquista da geração dos meus avós e dos meus pais e faz parte da cartilha dos valores democráticos que ensino aos meus filhos. Mas alinho com quem nestas eleições viu oportunismo. Não que o direito de uma maioria interromper o trabalho de um governo não seja legitimamente democrático, porque o é, mas porque afinal se interrompeu um ciclo com argumentos de uma situação que foi resultado de todos e de ninguém: de todos os que foram sendo poder e contra-poder no país, de ninguém porque de todos, mas também por reflexo de uma situação que nos chegou de fora e chegará a outros que alguns têm como melhores que nós. Primeira conclusão minha: não terá sido a queda e subsequente substituição do governo que virá alterar o rumo de Portugal nos, pelo menos, próximos dois anos, o tempo que restaria ao governo que sai agora.
E desta campanha tirei algumas lições: a primeira foi a do fenómeno de “os que cá andam por ver andar os outros”, expressão pouco simpática, é verdade, para designar aqueles que estão normalmente do lado dos que aparentam ser mais fortes e melhor posicionados para a vitória. É um fenómeno acalentado, naturalmente, por aqueles a quem as sondagens, esse novo instrumento de propaganda partidária, dão a vantagem. Afinal, parece-me que a lógica desse cálculo parece estar certa, pois se “todos” acham que uma escolha é a mais certa é porque deve ser mesmo. Também é aquele meio-mundo que pensa assim, o público-alvo do lado mais folclórico das campanhas, que depois é tão criticado pelo outro meio-mundo que aponta a falta de debates sérios entre candidatos. Vejo nestas atitudes a oposição massas-elites e pergunto-me se estamos todos – governantes e governados – preparados para lidar com este fenómeno aplicado a assunto de política, vital para a afirmação de um país. Encarar uma campanha política apenas como uma campanha publicitária, não me parece um bom serviço prestado à Nação.
Por outro lado, outra lição, a taxa de não-participação dos cidadãos faz-me pensar se, aquilo que se apregoa como a grande insatisfação do Povo perante alegado mau governo que alguns quiseram deitar abaixo, não terá sido precisamente a prova de que foram mesmo só alguns que quiseram alterar ou interromper o ciclo eleitoral.
E pergunto-me se este direito ao voto que conquistámos com Abril não deve tornar-se um dever a que só com justa causa se pode falhar, para que de facto se incluam todos os portugueses no destino do país (aliás, o recenseamento automático é já um adiantar de trabalho neste sentido). Um pouco como a escolaridade obrigatória, contra a qual eu não conheço ninguém que esteja, e que alguns não tendo sido abrangidos por ela tiveram nos últimos anos uma nova oportunidade de dela beneficiarem. É certo que não se evitarão os votos em branco, que poderão significar sempre equivocamente protesto ou ignorância, mas talvez leve muitos a estar mais atentos às propostas de quem se organiza em partidos, movimentos e coligações. Parece-me uma medida em prol do bem público, da efectiva educação para uma cidadania que se exerce também com o voto, sensibilizando para a importância de fazer opções, de respeitar as decisões e de perceber que quando se toma partido é porque se deseja uma determinada orientação, forçosamente diferente, muito ou pouco, de outras orientações que se proponham, numa valorização da alternativa. Não faria mal a ninguém, poderia até fazer muito bem a alguns que por uns momentos de tempos a tempos se habituariam a participar na Democracia, o que já representaria, incontestavelmente, um ganho para o país. E para os Portugueses, claro!