3.9.10

Da origem

Iniciar um blog é sempre o cabo dos trabalhos. Eu cá acho. Desde logo as inúmeras dúvidas existenciais que se podem colocar ao blog-autor-enquanto-tal e que vão desde a mais prática «Haverá tempo para o atualizar?», à mais filosófica «Para que serve, me serve ou a quem serve o meu blog?». Já o fiz por duas vezes, sempre em torno daquilo que é a minha profissão e o meu lazer preferido (sortuda!): a leitura. E dessas duas vezes a "coisa" foi por motivos muito altruístas: a promoção do livro e da leitura.
O que aconteceu depois é que importa agora. Suspendi a minha profissão - e o meu lazer ficou um bocado afetado - e dediquei-me a outra função, tão igualmente missionária como todas aquelas que têm objectivos bem definidos e, normalmente (ou preferencialmente?!), visam o benefício de um coletivo. Foi assim durante 20 anos em frente a turmas de alunos e a interessados nas conferências, é assim enquanto vereadora executiva da Câmara Municipal de Évora, a cidade que adoptei e onde fiz nascer os meus filhos. Estas funções públicas que exerço há mais de 20 anos assumiram uma outra responsabilidade a partir do momento em que a palavra «eleita» passou a juntar-se aos Dr.ª, Professora, Mãe, Filha e outras mais ou menos formais e carinhosas ou insultuosas a que um ser humano se arrisca nesta vida. E não pode, esta responsabilidade, ser uma aventura...ou um desafio como muitos me dizem para me encorajar ou como antes de ser eleita eu própria achava. O "bem público" é demasiado importante para se encarar a função assim, com um espírito de viagem sem rumo certo, ou como etapa de um campeonato "a feijões". Tal como o ser professora. Ou mãe.
Posto isto, um blog é agora um espaço quase ficcional, em que virtualidade e realidade se encontram, mas onde, como na arte em geral e na ficção em particular, há lugar para a aventura, para o ensaio, para a emoção e os afetos. Com desafio à persistência possível.
É esta a origem do "meu blog" e por isso escolhi-lhe o nickname que representa uma expressão que me tem acompanhado em muito daquilo que faço e que, confesso, soa melhor "em estrangeiro": by heart ou par coeur.