13.12.22

O valor dos primores

 Que bom foi receber a notícia que vai ajudar a mudar Évora e o Alentejo até 2027! E logo em dia de chuvas abundantes, algo relativamente extraordinário, que é quase sempre lido por mim como ambiente perfeito para nascerem heróis, criação de ficção que ensaia a vida. Colheu-se o primeiro fruto, resultado de vários trabalhos e cultivadores antepassados. Árvore fértil, ou generosa que acolhe o fruto de outros, dará mais frutos que confirmarão que os milagres afinal podem acontecer todos os dias. Sem regateios, tomemos o primor nas mãos e avance quem por ele se sentir alimentado e com força para o repartir com os demais.


Dentro de mim, gosto de pensar que os meus melhores frutos vão poder dizer, mesmo longe daqui por escolha e possibilidade, que nasceram numa capital. Tem sido nisso que penso e me empenho em tudo o que faço em Évora. Até porque a camisola que visto, com todos os apertos, piores dias, arrelias e desgostos, é a de uma instituição que leva o nome da cidade e da região. Mesmo quando reparo que não é por mim, nem por ela, nem pelo agora, que os elogios começam, mas pela cidade e pela região, a responsabilidade cresce e recompensa-se com os elogios que, no fim, consigo conquistar. E se não chegam, depois da desilusão e tristeza, prossegue a luta, com a elevação que me sai natural mesmo que com dor e me permite ser feliz na vida que vou escolhendo.


E tão mais feliz me sentirei a partir deste dia 7, se também isso significar o fim da descriminação tão demasiadas vezes ouvida do “não ser de cá”. Tantas vezes peneirada pela rebuscada genealogia que parece ter de apresentar-se como passaporte obrigatório para se ter direito às partilhas: as que recebemos e as que damos. É também isto cultural e, por isso, sujeito às dinâmicas que expectavelmente abandonam o atávico em favor do humanismo progressista. Só assim, dizer que a Cultura, esse conceito tão poliédrico, está no centro, como os discursos proclamam, corresponderá ao que é fazer o caminho certo. Estamos aqui para isso.