1.2.22

De lápis atrás da orelha

 Que bom estar de volta às crónicas!

O zelo da DianaFm em suspender as opiniões, marcadamente ideológicas e políticas, em período de pré-campanha e campanha eleitoral, revelou-se tanto mais louvável quanto as televisões, que dominaram todo esse período, foram tudo menos imparciais, sobretudo contra o Governo que se derrubou, feito alvo quer da esquerda, quer da direita. O que já não é uma novidade, diga-se.

Estas eleições foram um capricho de Partidos que nos fizeram viver, agora sim, acima das nossas possibilidades. O Povo percebeu, aparentemente, ou não se teria mobilizado ao ponto da maioria absoluta. Um investimento desnecessário, portanto, nunca um desperdício, entenda-se. Porque nenhuma ferramenta democrática de auscultação deve ser assim considerada. Durante um mês e meio, os Partidos estiveram nas respectivas montras e, dá para nos perguntarmos, se o que ganharam no “negócio” contribuiu para a saúde da Democracia que é exactamente para o que os Partidos servem.

Conhecidos os resultados, seguem-se ainda uns dias, ou semanas, de reacções e impactos. Enquanto isso, os destinos estão assegurados pelas diferentes máquinas do sistema do Estado, entre ministérios que se remodelam, mais ou menos profundamente. Os Portugueses perceberão se o que quiseram se reflectirá nesta reconfiguração e, daqui a quatro anos, avaliarão novamente.

Mas mais importante era que começássemos a perceber o papel dos Media, efectivo quarto poder, quando estes deixam de ser mediadores entre Partidos e eleitores e se transformam em co-construtores dos Partidos. Como o fazem com enredos, cenários, personagens e adereços, diálogos, descrições, apartes, talvez seja uma mais-valia saber ler literatura.

Isto, bem entendido, sou só eu a puxar a brasa a quem já lida com pós-verdades e fake-news onde estas podem existir à vontade. E quando acontecem em objectos estéticos de qualidade, barómetro com medidas de aferição próprias para além do critério do gosto, são muito úteis. Muito mais úteis do que fazer premonições e balancetes com o lápis atrás da orelha, tratando da sua merceariazinha.

Haverá tempo para lidarmos com esta nova, assim o espero, maioria absoluta e com uma direita a engrossar graças aos protestos populistas que estávamos habituados a ouvir noutros extremos.