3.11.20

Os olhos postos a poente

 É durante o dia de hoje, 3 de Novembro do aziago bissexto ano de 2020, que acontece mais um facto capaz de alterar o rumo do Mundo político. Não será uma catástrofe natural, muito embora se dê num contexto de catástrofe criada pelos hábitos sociais com impacto no rumo natural da vida do ser humano e outras espécies. Falo, claro, das eleições nos EUA e na possibilidade de os seus cidadãos emendarem a mão que escolheu um indigno ser humano para comandar o País há quatro anos.


Fui das que achou que Donald Trump conseguiria ser transformado num homem civilizado pelas instituições com que teria de lidar. Como outros, enganei-me redondamente. E isso, ao fim destes anos, disse-me pior das instituições do que de Trump, e lamento-o profundamente.

O que poderia ter sido uma encenação a sério para enganar quem acha que para comandar o circo é melhor ter o palhaço rico, muito menos interessante que o palhaço pobre, do que o director do circo, afinal revelou-se uma simples vitória da incompetência em todos os níveis, sobretudo naquele em que se sobrepõem outras características das personagens à competência necessária para exercer certos cargos. Os Republicanos bem podem limpar as mãos à parede, depois de terem fabricado não apenas o candidato, como por não o terem sabido controlar na dignidade que se devia exigir da sua magistratura.

Isto é coisa que acontece muito mais do que parece, apenas com impactos menos estrondosos do que este da presidência dos EUA. Menos estrondosos, mas não menos prejudiciais para as instituições e quem nelas trabalha. Acontece quando candidatos a geri-las são levados ao colo por uns, ou cuja ascensão é uma mera pro forma ou, por assim dizer, um alegre e solitário passeio no parque. Não basta querer muito e demonstrar disponibilidade, não basta prestar-se a ser instrumento para outras lutas, não basta ter dois dedos de testa e uma família influente ou amigos bem posicionados. Tudo isso pode e importa muito para tornar a vida mais fácil até se chegar ao desejado lugar altaneiro, mas, se sobrar a incompetência, de nada valerão, à instituição que se espera que gira, todos esses catalisadores.

A competência de quem lidera mede-se também pela competência da equipa que se escolhe para ajudar ao governo (ah! sim, que as más companhias duram muito para além da adolescência); mede-se pela capacidade de equilibrar o desejável com o possível (e sim há inevitabilidades na governação, não vale a pena enganar ninguém dizendo que não as há); e mede-se com a capacidade de transformar a famosa empatia num sentimento político, e por isso relativizado pela escolha da resolução de um problema que não crie outro maior, em vez de a entender, à empatia, ou como um substantivo concretizado noutra palavra bonita que só serve para consolar sem resolver, ou, pior ainda, num jeitinho a uns que prejudica outros e só contribui para o desequilíbrio e o desgoverno. Ninguém disse que governar era fácil, ou se o disseram era porque queriam enganar quem ouvia, desatento, e com os olhos postos noutro lugar qualquer.