Dias confusos virão aí para
quem alguma vez achou que, quando se chegava a lugares de poder, era porque se
tinha um determinado nível. Claro que não estou a pensar naquela atitude típica
de quem se esvai em sangue azul, ou azulado, ou seja mesmo só um snob. O snob é o grau obtido “sabe-se lá porquê”, tradução muito livre e
cómica que ouvi sobre o título atribuído “honoris
causa”. E que bem aplicado é a certos casos! Os snobs são, para mim, os últimos e mais fundamentalistas marxistas,
os que julgam que a explicação da máquina do Mundo está nas classes. Mas
adiante.
Toda a gente que já teve
alguma actividade na Política, mais do que só o importante e político gesto
imprescindível de votar para participar, não terá dúvidas de que, nesse mundo,
para além da inteligência é necessária muita resistência. Nos dias que correm,
estou em crer que para alguns dos que estão atentos ao que se passa na
Política, e que é só com quem consigo ter uma conversa em que sinta que estamos
mesmo a trocar impressões e opiniões, a resistência será a de não cair na lama
em que novos líderes partidários, mesmo de velhos partidos, se vão movendo.
As boas estratégias e
tácticas político-partidárias sempre viveram da pequena e cirúrgica rasteira
que se pregava a adversários ou inimigos. Nem que fosse não fazer nada, com
pose e elevação, e deixá-los espetarem-se sozinhos depois de tropeçarem nos
próprios pés. Mas isso parece chão que já deu uvas. O que está a dar é mesmo
chegar ao nível baixo de cultura política dos cidadãos e deixá-los lá.
Deixá-los, não. Convencê-los a ficarem lá, contentes com o seu
descontentamento, através de argumentos rasteiros, em discursos rápidos e
fluidíssimos, que soam tão clarividentes como “a lógica da batata” e que os
fazem sentirem-se ali bem, enquanto eles caminham em ombros no seu percurso de
grandes líderes. Mas rasteirinhos, rasteirinhos.
Por outro lado, aos que
detêm o poder no contra-poder também já ouvi discursos a pedirem já só uma
palavrinha ... de afecto, talvez. O que me parece uma forma de contestação
assim a dar para o chamado romance cor-de-rosa e, lá está, com um discurso também
muito rasteirinho. Como nunca, parece-me cada vez mais útil, para além das
entrelinhas, começar-se por ler mesmo as linhas com que nos vão cosendo os
destinos do País.