7.1.20

Do Ai! ao Ai!Ai!Ai!


Antes de mais, os meus votos de um bom 2020. O ano que entrou com o anterior a despedir-se com mais uma cena decorrida no hospital de Setúbal, desta feita uma agressão de uma doente a uma médica. E com os professores a reclamarem-se, pelas redes sociais, ainda no topo do ranking das corporações agredidas. O ano que entrou com o PR, ele mesmo, a não acatar os conselhos das autoridades, semelhantes àqueles que devemos seguir quando as intempéries acontecem, e a viajar são e salvo para a Ilha do Corvo. Das duas uma: ou provou que quem não arrisca não petisca, ou quer provar que é um ser ungido e inquebrável como um super-herói. Até porque, a juntar a isto, ainda se o ouviu a assumir o facto de andar a levar uma vida que os seus médicos desaconselham. Enfim, não sei se chore, se ria...
De facto, às vezes dou por mim completamente derrotada nos argumentos que uso com quem converso sobre a importância do Conhecimento e da Cultura no desenvolvimento do indivíduo... É que chega um microfone e uma câmara e zás!, parece ficar tudo reduzido ou à parvalheira ou, feito o recorte e a edição, à descontextualização criadora de não mais que uma comédia rasca.
A juntar a isto, ainda tivemos o Papa a dar um valente sopapo na mão de uma fan em histeria que, diga-se, parecia estar a “pedi-las”, para usarmos o jargão de muitos dos agressores em casos de crime provado de violência doméstica. Bem sei que logo a seguir veio pedir desculpas e perorar sobre o horror da violência sobre as mulheres, mas eu oiço para aí muita gente a educar outra dizendo qualquer coisa como “que as desculpas não se pedem, evitam-se”. É uma expressão algo irritante, porque quando se faz asneira e se prejudica alguém, o mínimo é pedir desculpa. Mas nem isso apaga o mal feito, nem é garantia que a lição tenha sido aprendida.
Concluindo, parece que entrámos nos loucos anos 20 deste século um bocado endoidecidos. Entre os “ais” de dor e os “ai,ai,ais” dos ralhetes, feita a média dá um “ai, ai”, suspiroso, ou um “ai, ai” queixinha, ou um “ai, ai” lamuriento. Qual deles o pior! Depois admiremo-nos que seja o mafarrico a escolher...