Os 125 anos que passaram
democraticamente sobre várias bibliotecas envelhecem-nas de forma diferente. A biblioteca
a que dedico esta crónica, e que festeja 125 anos, é fora do Alentejo, até de
Portugal: é a Biblioteca Pública de Nova York. Não toda pública uma vez que é
gerida por entidade privada sem fins lucrativos. Para começar o ano desta
comemoração, provavelmente fruto do trabalho de alguns dos seus três mil e muitos
funcionários especializados nestas contabilidades de rankings, publicou
uma lista dos 10 mais requisitados livros de sempre, com uma adenda de honra. O
que me mereceu motivo para vos falar deste assunto, a partir de Évora, foram as
conclusões curtas e claras que puderam ser retiradas deste aparentemente leve
exercício de comunicação e publicidade de rankings, que tanta gente
desmerece; mas também foi a divertida e entusiasmante história da menção
honrosa desta lista, para a qual um colega com quem interajo na minha rede de
amigos no Facebook me alertou[1].
(É que cada um tem a rede social que merece e eu aprendo muito com a minha,
mesmo não tendo lido o único livro de autoajuda deste ranking que,
veja-se, data de 1936 e anuncia o título que trata de como fazer amigos e
influenciar pessoas. Talvez os utilizadores das Redes Sociais não se dêem conta
de que frequentá-las é qualquer coisa como poder dizer que se os amigos são a
família que escolhemos, então os membros da nossa rede social são aqueles com
quem escolhemos conviver socialmente, quando há distância e sossego para esse
convívio.)
Das conclusões publicitadas,
destaco estas: os livros mais curtos circulam mais e os mais longos ficam nas
casas dos leitores durante mais tempo, com mais renovações de empréstimos; como
não têm livros só em inglês mas traduzidos ou originais de outras línguas,
quanto mais idiomas mais empréstimos; quanto mais tempo os livros se mantêm em
listas de aconselhamento para leitura nas escolas, mais leitores têm; assim
como os que recebem mais prémios, os que tratam assuntos mais globais e menos
locais, mais universais mas também os que tratam assuntos de que se fala mais
fora do mundo dos livros, todos estes saem mais das estantes. Parecem, pois,
lançadas as dicas para fazer clássicos desempoeirados e dar a perceber a quem
ainda não o conseguiu, o que também é a Literatura.
A outra curiosidade é a escolha
para menção honrosa de uma obra que parece ter adulterado este Top 10. Trata-se
de uma obra também para público infanto-juvenil, como seis das que figuram no ranking
selecto de leituras, que tendo sido publicada em 1947 só em 1972 foi
adquirida pela Biblioteca e passou a morar em Manhattan, e nos polos por onde a
PLNY se espalha, para ser lido à borla pelos seus cidadãos. Goodnight Moon
de Margaret Wise Brown não entrou nos catálogos desta importante biblioteca
porque uma, sim uma, bibliotecária, a que era responsável pelo sector
infanto-juvenil, embirrou com o livro, escrito num estilo mais progressista de
uma corrente que nascia noutro bairro da Grande Maçã. Anne Carroll Moore de seu
nome, exerceu entre 1906 e 1952 e conhecer a sua história parece valer muito a
pena. A importância que teve quer na promoção da leitura, quer na influência da
vida comercial deste e de outros livros e gerações dos leitores que frequentaram
aquela biblioteca, contribui para tornar mais verosímil a ideia de que a vida
ou morte de uma andorinha pode trazer ou levar a Primavera. Parece um enredo de
ficção, com traços de ironia poética, mas não é. Foram vidas, de pessoas e
instituições. E umas fazem outras, em muitas áreas.