6.3.18

A bancada


Desde 2007, durante o XVII Governo constituído com a maioria absoluta do PS, que se instituiu a prática parlamentar de quinzenalmente os Governos irem à Assembleia da República discutir com os deputados assuntos da governação. Muito para além dos grandes momentos, de por exemplo aprovação dos Orçamentos, esta regular prestação de contas pareceu-me sempre um exercício que permitiria, em princípio, que o cidadão-eleitor pudesse acompanhar a vida dos eleitos, de forma mais assídua e menos cansativa do que todas as múltiplas reuniões das Comissões Parlamentares que existem. Claro que, em princípio, é o Governo e quem o encabeça que parecem estar a ser ali avaliados. Mas esta semana que passou ficou comprovado que nem sempre é assim.

As pessoas, de uma forma geral, desconhecem o complexo mundo da Política e das instituições onde ela se organiza para afectar, depois, muito da vida, mas não toda, de um País. Têm mais que fazer, e os meios de Comunicação Social tratam de organizar resumos e guiões, como as editoras fazem para os alunos preguiçosos e avessos à leitura dos grandes clássicos da Literatura Portuguesa. No entanto, quando as coisas começam a mexer internamente nos grupos dos deputados  eleitos por um Partido, até ao ponto de se tornarem interessantes para serem notícia e cativarem espectadores um pouco mais atentos, a atenção vira-se para esse Partido em particular. Ao PSD cumpre-me pelo menos agradecer, tanto como à legislatura que regulou o actual funcionamento da AR, esta contribuição para mais um passo na oportunidade de melhorar a educação para a Democracia dos telespectadores em particular, dos cidadãos em geral.

E não que o debate tenha correspondido à expectativa que se criou, como num anúncio de algo para o qual queremos convencer muita gente a aderir. Ele era tentar perceber se os deputados daquela bancada iriam todos à sessão... Ele era tentar perceber se quando falasse o novo líder eleito pela minoria dos liderados estes se revelariam, em atitudes e expressões, exteriorizando as tensões interiores que todos já conhecíamos e que não foram bonitas de se ver... Todos sabemos ou desconfiamos que este comportamento é comum a vários tipos de associações em que se disputam lugares de poder por mais indivíduos do que esses lugares. Mesmo os que são mestres do “fachadismo” e estão sentadinhos na bancada a bater palmas e a aclarar as vozes em uníssonos bem ensaiados. Até parece que aqueles indivíduos não o são, ou seja que não há cá coisas pessoais, mas uma massa informe, una e compacta que responde, cerrando fileiras, a uma só voz. Pois, pois... Mas eu cá, quando tenho tempo e pachorra, até gosto de ver como as peças se mexem nesses tabuleiros, dentro e fora do jogo a decorrer. E na passada quarta-feira dei por mim a apreciar alguns reposicionamentos, ou não, muito interessantes.   

Bom, mas a coisa parece ter corrido sem incidentes nem acidentes. Para uns terá sido uma chatice. Mas esses são aqueles que se comportam como os que só vão ver corridas de automóveis ou motos pela oportunidade de ver aparatosos desastres donde, ainda assim, espero, se deseja que escapem com vida, miraculosamente, os habilidosos pilotos.  Quanto à bancada em si, também não deixa de ser curioso que tendo andado há mais de meia legislatura a apregoar a não-novidade que o líder do Governo não é o líder do Partido mais votado pelos portugueses, venha agora a funcionar com um líder que também não foi eleito pelo maior número de convencidos de que ele seria o melhor para cumprir essa missão. O destino é tramado. E estar na bancada, fica provado, é ter de se saber comportar tão bem como estar no meio do campo.