Desde 2007, durante
o XVII Governo constituído com a maioria absoluta do PS, que se instituiu a
prática parlamentar de quinzenalmente os Governos irem à Assembleia da
República discutir com os deputados assuntos da governação. Muito para além dos
grandes momentos, de por exemplo aprovação dos Orçamentos, esta regular
prestação de contas pareceu-me sempre um exercício que permitiria, em
princípio, que o cidadão-eleitor pudesse acompanhar a vida dos eleitos, de
forma mais assídua e menos cansativa do que todas as múltiplas reuniões das
Comissões Parlamentares que existem. Claro que, em princípio, é o Governo e
quem o encabeça que parecem estar a ser ali avaliados. Mas esta semana que
passou ficou comprovado que nem sempre é assim.
As pessoas,
de uma forma geral, desconhecem o complexo mundo da Política e das instituições
onde ela se organiza para afectar, depois, muito da vida, mas não toda, de um
País. Têm mais que fazer, e os meios de Comunicação Social tratam de organizar
resumos e guiões, como as editoras fazem para os alunos preguiçosos e avessos à
leitura dos grandes clássicos da Literatura Portuguesa. No entanto, quando as
coisas começam a mexer internamente nos grupos dos deputados eleitos por um Partido, até ao ponto de se tornarem
interessantes para serem notícia e cativarem espectadores um pouco mais atentos,
a atenção vira-se para esse Partido em particular. Ao PSD cumpre-me pelo menos
agradecer, tanto como à legislatura que regulou o actual funcionamento da AR,
esta contribuição para mais um passo na oportunidade de melhorar a educação
para a Democracia dos telespectadores em particular, dos cidadãos em geral.
E não que o
debate tenha correspondido à expectativa que se criou, como num anúncio de algo
para o qual queremos convencer muita gente a aderir. Ele era tentar perceber se
os deputados daquela bancada iriam todos à sessão... Ele era tentar perceber se
quando falasse o novo líder eleito pela minoria dos liderados estes se
revelariam, em atitudes e expressões, exteriorizando as tensões interiores que
todos já conhecíamos e que não foram bonitas de se ver... Todos sabemos ou
desconfiamos que este comportamento é comum a vários tipos de associações em
que se disputam lugares de poder por mais indivíduos do que esses lugares.
Mesmo os que são mestres do “fachadismo” e estão sentadinhos na bancada a bater
palmas e a aclarar as vozes em uníssonos bem ensaiados. Até parece que aqueles
indivíduos não o são, ou seja que não há cá coisas pessoais, mas uma massa
informe, una e compacta que responde, cerrando fileiras, a uma só voz. Pois,
pois... Mas eu cá, quando tenho tempo e pachorra, até gosto de ver como as
peças se mexem nesses tabuleiros, dentro e fora do jogo a decorrer. E na
passada quarta-feira dei por mim a apreciar alguns reposicionamentos, ou não,
muito interessantes.
Bom, mas a coisa parece ter corrido sem incidentes nem
acidentes. Para uns terá sido uma chatice. Mas esses são aqueles que se
comportam como os que só vão ver corridas de automóveis ou motos pela
oportunidade de ver aparatosos desastres donde, ainda assim, espero, se deseja
que escapem com vida, miraculosamente, os habilidosos pilotos. Quanto à bancada em si, também não deixa de
ser curioso que tendo andado há mais de meia legislatura a apregoar a
não-novidade que o líder do Governo não é o líder do Partido mais votado pelos
portugueses, venha agora a funcionar com um líder que também não foi eleito
pelo maior número de convencidos de que ele seria o melhor para cumprir essa
missão. O destino é tramado. E estar na bancada, fica provado, é ter de se
saber comportar tão bem como estar no meio do campo.