Um pouco por todo o país, cidades, vilas e
aldeias, vão nascendo os enfeites da época. Ao lado do cartaz personalizado da
empresa imobiliária, alinham-se outros com as poses não menos apelativas, em
princípio, das candidatas e candidatos aos diferentes lugares dos órgãos que
vão a preencher nas próximas eleições.
As eleições são, ao mesmo tempo, a semana
da recepção ao caloiro e da queima das fitas, comparação que quem vive em
cidades médias onde há universidades, entenderá bem melhor do que quem vive em
cidades universitárias ou nas outras que não têm instituições de ensino
superior de espécie alguma. Faço a distinção entre cidades com universidade ou
politécnico das que são cidades universitárias, porque mesmo ao fim de muitas
décadas, e em alguns casos séculos, nem todos os cidadãos convivem bem com
essas instituições que lhes alimentam a vida social e, não menos importante, a
económica. E como as Cidades são o resultado do conjunto dos seus Cidadãos, há
que identificá-las com aquilo com o que os Cidadãos se identificam. Em Évora,
por exemplo, a Universidade não será certamente, ainda, o elemento agregador
colectivo do eborense comum que lhe permita intitular-se cidade universitária.
Já em Coimbra, creio, não se pode afirmar o mesmo. Mas adiante, que a crónica é
sobre cartazes e não sobre universidades.
A espessura das mensagens que se transmitem
em cartazes de pendurar ao sol e à lua, como sabemos, não pode desejar-se
muita. É o slogan curto que fica, que evoca, ou desequivoca, ou equivoca
campanhas com safras melhores ou piores. É a micro-mensagem tantas vezes
engolida como um grumo de laranja no sumo do fruto espremido, apenas visível à
lupa de quem tenha por gosto ou obrigação procurar os sentidos mais
subliminares.
A Salomé Castanheira, candidata à
presidência de uma Junta de Freguesia em Águeda, profissional do assunto (não
assunto de juntas de freguesia, mas de comunicação com as massas e respectivo ramo
do marketing!), já começou a dar cartas, ou melhor cartazes, que logo deram
também que falar. Ao apresentar fotografias individuais de gente comum com
sorrisos, que se nos apresentam com o seu nome próprio mas que nos pedem,
dizendo ainda assim que é uma opção nossa, para os tratarmos por Salomé, a
candidata deles. O truque está engraçado e mesmo podendo ser sinónimo de outro
slogan, contorna o seu efeito negativo, já que o “Somos todos” qualquer coisa é
fruto de outra realidade negra, demasiado presente nos dias que correm.
Se o slogan “Somos todos” qualquer coisa é
uma reacção ao terror que se passou, não me deixa menos margem para especular
nos mesmo tons cinzentos o “Podem-me chamar Salomé” das autárquicas em Águeda.
Tratando-se de uma iniciante nas lides - novata ou noviça que, ainda assim,
como ela própria diz na sua reacção ao efeito viral da gramática
propagandística que escolheu, será “só” presidente de Junta – a identificação
dos seus fregueses com ela não é já só uma reacção, mas uma projecção. Eu cá se
fosse aos fregueses daquela parte de Águeda pensava mesmo bem antes de deixar
que me tratassem por Salomé... É que a mais famosa das “Salomés” que conheço mora
no Novo Testamento e é apontada como responsável pela execução do profeta João
Baptista ao seduzir, com danças e meneios, o velho tetrarca Herodes. Ai Salomé, Salomé! o mal que nos deixaste
ficar a nós, também mulheres...
Atenção, pois, aos meneios e sorrisos e truques
propagandísticos e não se deixem levar a brincar à Democracia. Que nada disto
vos impeça de querer saber para escolher e de saber exactamente a quem vão
pedir que vos preste contas.