Poderia voltar a falar de Trump e das eleições americanas
para tratar a “alternativa” como um conceito que tantos procuram agora esvaziar
do seu sentido próprio e dar-lhe um sentido que a inclui na postura da
não-verdade, versão adocicada de mentira, outra palavra infelizmente já tão
banalizada e gasta. Mas o que vou dizer aplica-se também, como uma luva, a
situações de pré-eleições, e pode acontecer num concelho perto de si. Não é uma
denúncia de situações largamente acompanhadas por gente “batida” nestes
assuntos, longe de mim imiscuir-me em festas para as quais não fui convidada. E
como todos sabemos, há ausências de que se faz parte previsivelmente desde o
princípio em que as festas se organizam e que, inegavelmente de forma coerente,
se mantêm até ao arrumar das cadeiras em cima das mesas. Não vale a pena
recontar versões de uma história curta em que os intervenientes estejam por aí,
e não tenham sido mortos e enterrados, nem que seja com uma “sentida homenagem”
como soe dizer-se. E tudo sem tristezas, pois claro, porque como também diz o
Povo deste país à beira-mar plantado: “há mais marés do que marinheiros”!
É tão somente minha intenção, aqui e agora, lançar, a
quem queira ouvir-me, um alerta. É acima de tudo uma palavrinha que sendo breve
tem muito a dizer, palavra da autora, para aqueles que, ainda sempre
convencidos de que quem vive activamente no meio dos partidos políticos é
“farinha do mesmo saco” (que só entendo e confirmo se a farinha forem os
indivíduos da espécie humana, e o saco o caldo da cultura local em que estão
metidos e de onde não querem sair). É um tentar fazê-los entender de que o todo
pode ser melhor do que as partes, e que temos o direito de, consciente e
criticamente, recusar o todo que começa a parecer-se demasiado com as partes
com que menos nos identificamos e que não temos de “engolir” a qualquer preço.
Falo evidentemente de preço como valor, ou melhor, valores pelos quais
aceitamos conviver, discutir, trabalhar e produzir numa determinada equipa para
um objectivo que até podem dizer que é comum mas que, nos casos para que
alerto, são só individuais, próprios e, até admitindo que qualquer um de nós
deva retirar de situações em que nos empenhamos vantagem, nem que seja no gosto
e prazer na actividade em si-mesma, normalmente gente como esta usa para
disfarçar vantagem de sacrifício.
Ora a palavra “alternativa”, mesmo quando usada na
anglo-saxónica expressão TINA – there is no alternative -
vem do latim alternativus, e significa,
etimologicamente, “escolha entre duas opções”. Se, por um lado, a análise da
palavra mostra que nela já existe um radical (alter)
que, em latim, significa “outro”, podemos considerar que a expressão “outra
alternativa” é uma redundância ou um pleonasmo. Não podemos, no entanto,
esquecer que, quando se fala em "alternativa", não se tem necessariamente uma
dualidade, e se pode abrir um leque para uma multiplicidade delas. Ou seja,
quando se fala em "alternativas", pode não se estar em face de apenas duas, mas
até mesmo de várias para escolher. É até, em democracia, sinal de vitalidade
dos cidadãos na vida das instituições.
Já na
tauromaquia, "a alternativa" é a profissionalização do praticante desta arte, o
que me leva a perceber que há quem tenha como única opção de vida "tomar a
alternativa" e tornar-se na única opção de alternativas com quem nunca disputou
o lugar. Obviamente, por falta de comparência de outros ou de capacidade de
evitar previamente a ascensão ao lugar de quem nunca percebeu, nem quis
perceber de forma escorreita, da arte que se propõe a exercer. Felizmente, lá
para Outubro, poderemos exercer em liberdade a democracia, o que significa que
há sempre a tal outra alternativa.