Há temas que, sendo da política porque dizem respeito ao
que nos governa, confesso ser incapaz de pensar para além de uma lógica quase
comum. Falo de temas sobretudo relacionados com as finanças, um mundo que, para
além da inevitável matemática vertida em equações e gráficos que só consigo, hélas!, apreciar esteticamente, mexem com a sociedade e as
pessoas e, por isso, aparecem não no campo das ciências exactas, mas no das
ciências sociais e, porque não, humanas.
Assim o quase-sempiterno assunto da Banca e da Caixa
Geral de Depósitos tem-me dado que fazer. Muitos artigos de opinião, o
acompanhamento regular das audições em comissões parlamentares onde trabalham
aqueles que me representam, já que eu faço parte dos que ainda votam sempre. E,
claro está (pois se são estes os momentos em que quem tem mais que fazer do que
inteirar-se destas “politiquices” ganha argumentos para emitir opinião),
algumas explicações, dos vários lados, aos microfones, em cenários de rua que,
como todos os que estudamos e aprendemos em qualquer nível e assunto que seja,
da física quântica ao ponto de crochet, podem ser cenários ruidosos e
propiciadores de equívocos provocados por curto-circuitos de mensagens
truncadas e desenquadradas.
O assunto é delicado já que se trata do Banco de todos
nós e que, à semelhança do que devíamos fazer com o banco de jardim que também
nos serve quando nos sentamos lá e serve aos outros que lá estão quando nós
ainda ou já não estamos, devia ser bem tratado por quem o usa e sobretudo, ou
seja como exemplo de cima, por quem dele cuida, mantendo-o útil e eficaz para o
que serve. Um banco não é só uma instituição onde se guarda dinheiro e se cobra
por isso, mas também é isso. Assim, a nossa Caixa, para além de um banco com
todas as transacções que implicam vários tipos de investimentos, é também uma
caixa, lugar onde se guardam bens de forma segura, aos cuidados de quem tem de
ter a hombridade de se colocar acima dos seus interesses pessoais para
corresponder aos interesses daqueles que lá guardam o que é seu mas também o
que é de todos. Também é por isso que o chamado “subsídio de falhas”, que quem
trabalha directamente com dinheiro nas empresas recebe, serve para casos de
acertos por pequenos lapsos e não contempla a fraude. Quem não comete lapsos
fica assim com mais dinheiro para se governar. Para isto é preciso que as
contas primeiro se façam, depois que batam certo. E é por isso também que a
prestação de contas, mesmo quando se trata de outras questões de gestão, é o
elemento fundamental para a confiança dos utentes de uma instituição. E falo do
governo e da oposição como instituições com as mesmíssimas responsabilidades
para este efeito.
Do que
li e ouvi sobre e do ex-administrador da Caixa (a quem só cobiço os rendimentos
já que o trabalho e a responsabilidade que lhes equivalem me parecem ser
exigentíssimos e inalcançáveis o que, por isso e como a cobiça se define, é uma
ambição que não chega nem se deve concretizar) gostei de perceber que
partilhava de um princípio que demonstrou ter: de que uma equipa vale tanto no
momento em que se recebem os louvores ou as críticas por dirigi-la, como merece
que dela se afaste quem discorda do seu funcionamento ou, como no caso em
apreço, deixe de a ter. E foi ao perder a maior parte da equipa para administrar
aquela instituição que o senhor saiu e, porque esse não era um problema dele,
lá entregou a sua badalada declaração de património. Tenho pena que alguém
assim não tome conta da Caixa onde o país guarda o seu dinheiro. Parece-me que
o hábito de “fazer caixinha” tem mais sucesso numa certa maneira de fazer
oposição e se perdeu uma boa oportunidade de fazer as coisas bem. O que também
demonstra que os 42 anos de democracia são ainda o princípio. Haja esperança!