5.7.16

Exames

Está na altura de lançar pautas e apeteceu-me falar de exames, até a pensar nas práticas de avaliação a que, actualmente, somos todos tão chamados a fazer para escrutinar medidas e condicionar, com escolhas ou até mesmo com outro tipo de pressões, aqueles que exercem cargos de gestão e direcção. O que, diga-se de passagem, testa muito mais a resistência do que outra qualquer competência, eventualmente até mais benéfica para aqueles e aquilo que se gere ou dirige.
Aprendi a pensar que os momentos de avaliação são uma espécie de competição individual para a qual treinamos, mais ou menos afincadamente, e cruzei-me várias vezes com alunos que eram muito melhores nos treinos do que nos resultados que obtinham nas competições. Daí que o treino seja, ao longo de um processo de construção e evolução, de facto o principal. Não com vista ao exame, mas como verdadeira intenção de formar essas pessoas. Talvez seja por isso que faço tudo o que está ao meu alcance para evitar que os alunos vão a exame, preferindo que estejam nas aulas e possamos puxar uns pelos outros.
Se também me parece óbvio agora, ao fim de umas décadas de vida, que os resultados acontecem muito mais devido ao trabalho do que à sorte, apesar de haver momentos de sorte, porque os há, que também deram muito trabalho, a satisfação pessoal não se pode (numa vida tão curta e tudo, que é o que quem se dá bem com ela nunca, nem centenário, nega) limitar-se a um único momento. Ainda que numa vida haja o que chamamos momentos únicos, porque também os há, mesmo não sendo realmente nem inéditos, nem exclusivos.
O Vergílio Ferreira escreveu que «Há o desejo, que não tem limite, e há o que se alcança, que o tem. A felicidade consiste em fazer coincidir os dois.», o que na era da busca da felicidade a que parece termos chegado, nesta tão rápida evolução da ciência e da técnica, e que nos deixa tempo para pensar na melhor maneira de elas usufruirmos, me pareceu conselho sábio. Muito até ao arrepio das igualmente actuais palavras de estímulo que profere quem acha que tem e pode ter vocação para treinar gente feliz, por cima de toda e qualquer circunstância. É que esse tipo de estímulo pode mesmo ser tão exagerado que passem, os que a eles são sujeitos, para o lado oposto, o da frustração. E nada disto, afinal, serve para melhorar o que é o optimismo e o mais recentemente baptizado conceito de auto-estima.

Numa era em que o que podemos ter é muito mais acessível, quando abençoados pelo deus-dinheiro, do que o que podemos ser – basta ver como nos impingem o supérfluo com tanta facilidade e tentam que se contorne o menos bom com a possibilidade de sermos mais felizes com esse supérfluo, tornando-o imprescindível – resistir e viver melhor só deve poder encontrar-se em nós mesmos e na responsabilidade pessoal que cada um de nós, com a ajuda dos outros porque a solidariedade é que também nos permite vivermos em sociedade, treina quando vive. A ideia do Juízo Final que as religiões todas apregoam é esse exame final. Os métodos de treino é que não são os mesmos, mesmo com códigos gémeos. E muitos desses métodos, como sabemos pelas notícias que nos chegam todos os dias, são inimigos do homem e da vida em sociedade.