Eusébio e
Sócrates, o José, estiveram quase inexplicavelmente juntos, na berlinda, a
semana passada. E este par tornou-se tão estranho como se estivessem estado
juntos nessa berlinda o Eusébio e Sócrates, o filho de Sophroniscus, ou seja, o
filósofo grego. Afinal, houve quem usasse Eusébio, mais uma vez e abusando do
multiusos em que se transformam as figuras públicas de relevância, para, de
repente, descobrir mais um, só mais um, motivo para zurzir em quem de facto não
interessa, por variadíssimas razões, esquecer. E não fossem, com os recentes
apelos à união de esforços de todos aqueles que estarão interessados em
governar o país, lembrarem-se de que foi esse o esforço pedido por Sócrates
quando da medida de contenção mais conhecida por PEC IV, às tantas mais valia,
para alguma gente (que devia ter mais “cabeça”), distrair o “mexilhão” com o fait-divers que juntou, então, o
sempre-herói Eusébio e o sempre-odiado (e porque, em meu entender, invejado)
José Sócrates.
E foi assim
que, saído de um comentário perfeitamente inócuo sobre uma recordação de
infância que colocava Sócrates no reino dos comuns mortais a propósito do
imortal Eusébio, talvez com medo que tal imortalidade contagiasse quem ousou
também ter infância, se criou o dito fait-divers
sobre “onde estava José Sócrates no dia do Coreia do Norte-Portugal de mil
novecentos e troca o passo”.
Nós bem
sabemos que o José Sócrates comentador não tem poupado a coligação do governo,
e do governo com o PR, a críticas incomodativas e explicadas com uma
argumentação que, não sendo a mais acessível ao cidadão comum e desatento aos
meandros da política a sério, e não da intriguice, é, em meu entender, muito
certeira. Também sinto, como muitos outros, e sem qualquer interferência na
apreciação que faço do político que é e estadista que foi, que o jeitinho de
José Sócrates para falar de coisas mais afetivas não é, em meu entender, dos
melhores. Mas de um governante, confesso, espero mais do que jeitinho para
embalar ouvintes embevecidos com histórias de encantar.
Ora durante
toda a passada semana toda a minha gente falou sobre o Eusébio falando de si
ou, em alguns círculos mais dourados, da relação de si próprio com Eusébio.
Para quê disparar a propósito de Eusébio contra José Sócrates nostálgico, sem
sequer utilizar munições ajustadas? Porque até isto de fazer intriga no meio
político, e em geral no meio público, também tem a sua arte…
Como
escreveu o Vergílio Ferreira «Afirma com energia o disparate que quiseres, e
acabarás por encontrar quem acredite em ti.» E é por isso que quando
inopinadamente desatamos a acreditar pia, pública e cegamente, em matéria pouco
relevante para o interesse público, em quem desatou um disparate corremos um
certo risco em, pelo menos, sermos tão ou mais disparatados. O desatino de quem
tem também o nosso destino nas mãos, aproveitado por quem se supõe que vive de
atinar em notícias e divulgá-las, enrola-nos por vezes na espuma dos dias…
Temos de saber sobreviver-lhes, às vezes e para muitos, como heróis.
Até para a semana.