17.1.13

DISPENSAR

A semana passada correu a notícia das próximas medidas que o FMI aconselha numa longa lista, sempre com boa receção, ao governo deste nosso pequeno País tão grande em dificuldades e tão profundo em casos, se calhar a servir de exemplo a outros Países da velha Europa. Dispensar professores é uma das linhas da dita lista.

Concentremo-nos no verbo dispensar e em todos os seus significados, já que todos esses dispensados são profissionais formados exatamente para essas funções e não para outras quaisquer, logo importa saber em que se transformarão por força de eventuais novas funções. Dispensar significa “isentar” ou “desobrigar de”, significa também “prescindir” ou “não precisar de”, e significa ainda dar” ou “distribuir”.

Se o Governo seguir à risca esta linha da lista – bem sei que parece estarmos perante um jogo daqueles eletrónicos, tipo Pacman, em que uma bolinha comilona come em caminhos estreitos bolinhas sossegadas – o Estado estará, ao dispensar professores (porquê professores, ainda estou para perceber melhor, mas adiante, isto fica para uma próxima), a desobrigá-los de continuarem a ensinar. Todo e qualquer investimento feito na formação de professores terá, pois, sido dinheiro deitado à rua. A menos que, se esteja a pensar que deixe de ser o Estado a contratá-los e que por isso se desobrigue de ter nos seus quadros professores em número suficiente para ensinar os cidadãos e sejam as empresas a tomar em mãos grande parte desse assunto. Talvez seja isto, sim…

Se o Estado decidir que não vai precisar de professores deverá assumir, no mínimo, que não está nem aí preocupado em investir em Educação numa perspetiva nacional, dando igual oportunidade de, do Minho ao Algarve, as crianças e jovens portugueses estarem equiparados nos objetivos e metas de conhecimento e aprendizagem. A menos que, repito, se esteja a pensar que deixe de ser o Estado a contratá-los e que por isso não precise de ter nos seus quadros professores em número suficiente para ensinar os cidadãos e sejam as empresas a tomar em mãos grande parte desse assunto. Talvez seja isto, sim…

Se o Governo dispensar professores do Estado dando-os a ou distribuindo-os por sabe-se lá quem e como, estes deixarão de ser funcionários públicos, desobrigando-se desta feita, se calhar, de cumprir aqueles dez princípios que tanto prezo da carta ética da administração pública, em que o primeiro princípio nos lembra logo que os funcionários se encontram ao serviço exclusivo da comunidade e dos cidadãos, prevalecendo sempre o interesse público sobre os interesses particulares ou de grupo. A menos que, insisto, se esteja a pensar que ao deixar de ser o Estado a contratá-los, não precise de ter nos seus quadros professores em número suficiente para ensinar os cidadãos e sejam as empresas a tomar em mãos o que se tornará então o Negócio da Educação. Talvez seja isto, sim…

Ah! Já percebi! É que o negócio é sempre uma coisa muito mais rentável do que a paixão… desde que não feche, claro!