18.9.12

Agir

De regresso a mais uma série de crónicas da Diana, quero começar por vos dizer que larguei os provérbios populares como coreografia destes meus contributos no espaço de opinião que aqui, tão gentilmente, me é cedido e que os ouvintes, pacientemente, quiçá vão acompanhando. Não quer isto dizer que de quando em vez não meta por aí um provérbio a jeito, mas parece-me mais desafiador  ir mudando alguma coisa na forma, já que no conteúdo, que é como quem diz na maneira como vou olhando o mundo, poderão continuar a contar comigo igual a mim mesma.
De qualquer modo, e porque gosto de ter também na forma e no figurino alguns pontos fixos que me ajudem a alinhavar as ideias antes de vo-las transmitir, inspirada no programa televisivo de canal ainda público, o «5 prá meia-noite», onde encalhei algumas vezes neste verão, vou passar aos verbos. E como os verbos, aprendemos nós na escola, são ação, o primeiro que escolhi para hoje foi o verbo AGIR. Um dos mais irregulares verbos da língua portuguesa, por sinal. Alguns dirão que mais do que me ouvir falar do verbo agir devo passar à ação e fazê–lo desta ou de outra forma, mas olhem que para quem não tem tido um tostão, o que normalmente para muitos desses agir quer dizer – dar mais dinheiro para isto ou para aquilo – até acho que não tenho agido pouco, nem a meu ver, claro, mal. Só que destas minhas ações no presente do indicativo, se os resultados mais imediatos poderão parecer para quem costuma viver no pretérito imperfeito (havia mais dinheiro, pois havia) negativos, julgo que no futuro permitirão um conjuntivo (quando houver mais dinheiro) melhor.
Mas voltemos ao verbo AGIR. Agir implica sempre uma enorme responsabilidade, já que só não erra quem não faz nada e por isso agir, ou seja, fazer alguma coisa é sempre correr um risco. Também me parece verdade que agir pressupõe sempre uma ação positiva, não no sentido de bem ou mal feito, mas no sentido de construir algo. O contrário, evitar que se faça algo, poderia ser traduzido pelo verbo REAGIR. Ao contrário do que dá a entender, reagir não é agir duas vezes ou voltar a agir, mas antes e normalmente, agir em razão de uma ação anterior.
Nesta rentrée conturbada do nosso país o agir de uns tem feito alguns reagir de forma inesperada. Falo dos discursos que precedem o agir do governo no futuro próximo dos portugueses (e que é no fundo um reagir à crise) e falo dos discursos daqueles de quem menos esperávamos a reação que tiveram. Dos outros, os que reagem sempre ou em que o agir parece ser sempre o reagir, já não nos vem novidade e perguntamo-nos mesmo se um dia não fosse preciso reagir e apenas agir como fariam e se fariam algo com melhores resultados…
Bem, apesar das redes sociais, apesar das grandes tiradas chocantes para alguns que até veem neste discurso reativo uma espécie de usurpação de um território exclusivo, apesar de tudo isto confesso que também eu, como provavelmente a restante grande maioria dos 10 milhões de portugueses que não reagiu verbalizando em redes sociais, estaremos tão expetantes com este ano que se inicia agora como qualquer criança que entra pela primeira vez na escola. Entre o medo dos chumbos e as incertezas do que o final do percurso nos traz, nas mãos deste ou daquele que nos oriente, a certeza do que é ser um bom aluno, como o de ser um bom cidadão, vai depender daqueles momentos em que sem ajudas, nem cábulas, nem consultas, conseguirmos responder ao desafio da vida e agir para vivê-la.  E aqui “salta-me” a célebre frase de Kennedy, «não perguntes o que pode o teu país fazer por ti mas o que podes fazer pelo teu país». A isto já alguns tiveram de responder saindo do país. Espero, muito sinceramente, que não seja esta a resposta certa que nos peçam para continuar a dar.