15.9.20

Contra o que RÓI

 De volta às crónicas, renovo o agradecimento à DianaFm pelo convite que me permite dar-vos a ouvir e a ler a minha opinião.

2020 é ano que ficará na História pelas razões que normalmente assistem a essa marcação na linha do Tempo e que certos indivíduos, pateticamente, ambicionam, multiplicando-se em habilidades várias.

Mas são as guerras e as desgraças naturais, a par das descobertas científicas, que confrontam a Humanidade e a obrigam a crescer. São factos que se constituem como balizas para se contar o que já fomos, permitindo-nos acautelar, no que for possível, o que seremos.

Em simultâneo, nestes seis meses do meio do ano, assistimos ao nascimento de uma pandemia que abalou vários sistemas que tínhamos como confortáveis mas, pelos vistos, frágeis; assistimos ao ressurgimento dos ímpetos racistas com respostas reciprocamente violentas; assistimos ao reerguer do discurso do fascismo, rebocado por um espírito contestário mais destrutivo do que colaborativo, como isco para solução fácil de problemas trabalhosos. Trabalhosas são as muitas arestas com que a Democracia se depara, por ter de contar com a participação de todos, e cujo limar depende mais do indivíduo com carácter empático, do que daquele que, à volta do seu umbigo, apenas quer ter a vidinha arrumada, normalmente com jeitinhos de fazer inveja ao próximo.

E tudo isto com a Ciência a provar ao resto do Mundo que sim, que a dúvida, a tentativa e o erro estão-lhe humildemente na base, por muito que quem a combata faça do erro a poeira com que cega crédulos, e que estes se transformem instantaneamente em arrogantes sabichões para quem o remédio está em eliminar quem não creia.

É contra o que nos rói - acrónimo também do racismo, do ódio e da intolerância; é contra o que parece ter apanhado boleia da frustrante pandemia para fazer emergir do pântano esses instintos que para vingarem, têm de se vingar em alguém, que me baterei com as palavras que vos vou deixando por aqui. E que nestes dias se revestem do enorme desgosto de ver a Évora das três culturas - judaica, islâmica e cristã-, a Évora Património da Humanidade, a Évora candidata a Capital da Cultura, poder ser cenário de quem se congrega contra a diversidade, contra o Conhecimento, contra o que é a construção humanitária e a troca pelo pseudo-solução instantânea como quem troca o ensopado feito a preceito pela sopa de pacote. O que, como todos sabemos, só engana quem ignora como isso se faz ou, por outro lado, quem sabe que poderá ficar com o ensopado que os outros se contentarão, enganados, com a sopa de pacote.

É contra tudo o que rói que continuo a usar da palavra, também aqui.