Li a expressão “reflectir sobre o futuro” a
propósito das andanças dos mercados do futebol. Foi até o espanhol Casillas
quem o terá afirmado a um jornal italiano, segundo a imprensa, facto pouco
importante para o caso, apenas partilhado por vício académico de referência a
fontes, conhecida no meio como “honestidade científica”. Chamou-me a atenção
uma certa impossibilidade da afirmação “Estou a reflectir sobre o futuro.”, em
qualquer das línguas em que pudesse ter sido dita e roçando a poesia quase
banal na forma, mas profunda nos seus sentidos plurais. E útil, como só a arte
sabe ser!...
Reflectir é, etimologicamente, também
“dobrarmo-nos” ou “debruçarmo-nos” sobre algo. Como podemos fazê-lo sobre o que
está por acontecer? Era esta a impossibilidade da frase de Casillas onde, está
bom de ver, o verbo foi utilizado como sinónimo de “pensar”. Uma aproximação
que, mesmo vindo de alguém que joga com pés e mãos, demonstra como naquilo a
que chamamos jogo para além do lúdico e mexe com a realidade de cada um, a
projecção no futuro, a previsibilidade de factos por acontecer, requer pôr os
neurónios a funcionar perante dados que, mesmo dados como adquiridos, merecem
leitura, interpretação e avaliação.
Tendemos a apreciar os que “se atiram de
cabeça” adjectivando-os de corajosos. E tantas vezes essa atitude é a mesma de
uma criança que, por falta de vocabulário, faz afirmações que parecem versos,
esses que também são fruto do olhar inaugural do Poeta, acrescentado com o
trabalho aturado do verbo sobre a realidade até banal. Mas é a inconsciência
que nos torna afoitos. Quando assim não é, gostamos de lhe chamar “risco
calculado”, o que não deixa também de ser uma expressão interessante, pois por
muitas contas que se façam e batam certas numa dada circunstância, o correr
ininterrupto do Tempo pode alterar os resultados pela introdução de outras
circunstâncias.
“Reflectir sobre o futuro” é, pois, a
expressão banalizada de recolher informações e analisar dados para, depois,
decidir como agir. O que se faz com esses dados e essas informações vai, isso
sim, diferir dos diferentes usos que se faça dos neurónios com os mesmos
elementos. E é aqui que uma pessoa bem informada pode sempre parecer muito
inteligente e uma pessoa muito inteligente, por falta de informação, pode nem
sequer o parecer. A história do cientista distraído é mesmo só um eufemismo
para aquele que, absorto na sua tarefa, ignora todos os sinais que o rodeiam e
onde há sempre informação útil a retirar-se.
“Reflectir sobre o futuro” é um exercício que,
quando praticado regularmente a todo o momento atrevo-me a dizer, acrescenta à
informação o que falta para esta se tornar Sabedoria e Conhecimento. Mesmo nas
coisas mais pequeninas e pessoais. Tão mais importante quando temos connosco
outros que dependem desse futuro, de quem queremos ou temos de ser líderes. E
onde a coragem dos que se atiram de cabeça pode ser tão desmiolada.