As redes
sociais em formato eletrónico vieram para ficar. Pelo menos até que um destes
séculos algo que só exista ainda na imaginação de algum criativo possa tornar
maior e mais acessível, através de uma telepatia qualquer, o contacto e
convívio entre as pessoas. Porque é disso mesmo que se trata com o Facebook. De
contacto e convívio. Há, claro, quem depois o use para outros fins, mas o
contacto entre pessoas é, sem dúvida, o que está na sua base. Uma imensa agenda
de que todos os que estão ligados à rede podem fazer parte, dando a cara e
criando certos limites de privacidade, que é preciso conhecer muito bem, para que
esse contacto se estabeleça de forma saudável. E há até a possibilidade de se
criarem heterónimos, nome simpático para os chamados “perfis falsos”, tão
fáceis de descobrir. Bem como utilizá-lo para manter conversas, partilhar
estados de alma, fazer passar uma mensagem, já que tudo isto faz parte do que
conseguimos quando entramos em contacto com os outros: comunicar.
Um tal
Robert South, homem da igreja que viveu na Inglaterra do século XVII e ficou
conhecido pelos seus sermões inflamados, disse que a "palavra foi dada ao
comum dos mortais para comunicar os seus pensamentos e aos sábios para os
disfarçar". Ora as escolhas de textos, imagens, comentários e situações
que cada um dos utilizadores de redes sociais faz para comunicar com os seus
contactos, a que chamamos amigos, ou a todo o mundo, revelam (no sentido
bíblico de voltarem a esconder) pensamentos e desvendam personalidades que
muitos teriam, e têm, algum pudor, ou medo, em expor. Ou simplesmente porque
não lhes apetece participar desta enorme rede e pronto.
Nascido de
uma daquelas mentes que pensa “fora da caixa” e limitando-se, no seu início, a
um público universitário de uma determinada comunidade, a de Harvard nos EUA, o
mais interessante nesta rede social é o facto de, ao crescer para o mundo, ter
contagiado as gerações mais velhas, tendencialmente mais numerosas, com a
evolução civilizacional que se deseja manter e assim ter mantido uma
longevidade que a natural “volatilidade” dos jovens poderia condenar.
Dos sinais
de fumo à carta, do telegrama ao telefone, este tipo de redes corresponde da
mesma forma à necessidade de as pessoas estarem em contacto umas com as outras.
O Facebook tem ainda a vantagem de mostrar a face da sociabilidade que é
característica humana, sem estabelecer hierarquias à partida, e permitindo ao
cidadão comum acesso um número razoável de ferramentas para criar um perfil ou
página tão estonteante como vulgar.
Devo por fim
dizer que sou fã do Facebook, que me reservo o direito de fazer do meu mural o
que bem quero, como qualquer seu utilizador pode fazê-lo, dentro do que é
oferecido fazer; e ainda, que tenho uns termos de referência próprios a
explicar a minha relação com o mesmo e com a minha rede, como qualquer um pode
ter, e para que não haja equívocos; e mais ainda, que fico triste quando se diz,
apocalipticamente, que o FB substituirá o contacto direto entre pessoas, porque
acho que não se percebe o quanto essas chamadas substituições anulam, sim, o
tempo e distância, como aliás a escrita, e tornam vidas mais felizes.