3.1.12

O tempo e a hora não se atam com a soga

Quando eu julgava que nada de novo haveria para 2012, pelo menos logo assim no primeiro dia, a não ser segundos, minutos e horas novinhos em folha para estrear, eis senão quando um par de investigadores americanos vem propor-nos uma revolução.
No dia em que, ordeiramente como manda a maioria no governo, os impostos sobem, o horário de trabalho cresce e alguns subsídios desaparecem; no dia que é também o Mundial da Paz, o Papa Bento XVI vem pedir tréguas entre os Povos e anunciar a sua visita à Cuba dos Castros, na senda que quase poderíamos chamar revolucionária (ou talvez seja melhor ser só inovadora) do seu resistente antecessor João Paulo II, num encontro de dois descendentes que ascenderam a lugares cimeiros para representar dois Povos – o dos Católicos e o dos Cubanos – com uma legitimidade que nenhum dos Povos aparenta pôr em causa (mas que a mim me parece ser a escolha feita em nome dos Fiéis à Igreja Católica muito mais consensual do que a dos súbditos dos Castros); neste dia em que até o Presidente da nossa República faz um tradicional discurso dirigido à esperança de todos e cada um dos Portugueses; não é que aqueles dois académicos se propõem alterar o calendário gregoriano? Fazendo coincidir os feriados por assim dizer mundiais sempre com os domingos, passando os meses para 28 dias, ou dividindo o ano por trimestres ou por 13 meses, enfim, algo aparentemente confuso, mas que os senhores entendem que é melhor para a economia mundial.
Eu bem sei que as crises podem provocar o pânico, tal como também sei que a Ciência muitas vezes se deixa deslumbrar pelo Belo, mas também pelo Poder. E que mudar o Mundo, mudando a forma de contar o Tempo, é uma espécie de fazer de conta que se manda em toda a gente… ao mesmo tempo.
Mas não será demais que esta veneração à Economia seja feita à custa de um esforço demasiado grande para a maioria dos comuns mortais que já assistiu nestas últimas décadas a súbitas e profundas mudanças e que, pelo menos, haja uma pauta constante que é o calendário gregoriano? O calendário de há quatro séculos e tal, e que ainda assim em países protestantes provocou motins e demorou dois séculos a ser adotado. E os Ortodoxos que só no início do século XX a ele se renderam!
Bem sei que estas guerras santas estarão ultrapassadas, mas quereremos nós a população ativa e a outra que em breve o será, ver o Tempo ser recortado e rearrumado de forma diferente em nome da produtividade? Suponho que quem cumpre está muito bem como está, quem está disponível a justamente dar o melhor de si através do resultado do seu trabalho também, e que quem não o faz não o fará melhor com outra regra que não seja a de uma verdadeira concertação entre empregadores e empregados.
É como diz o Povo, «o tempo e a hora não se atam com a soga», e é a forma como, quem o usa, o gere que o torna tão relativo, tão ilusoriamente relativo. Com ou sem novo calendário.