25.11.14

Lobby

Entende-se, tradicionalmente, por lobby o esforço desenvolvido por uma entidade, não apenas privada mas sempre com interesses particulares dos que a constituem, no sentido de influenciar quem governa ou quem legisla. Um lobby é, por isso, um grupo organizado de pressão para atingir determinados objetivos ou para defender certos interesses.
Os lobbies podem ser desde os das indústrias tabagista e farmacêutica aos sindicalistas, passando pelos dos reformados e dos jornalistas, o das causas de igualdades de género (como o movimento LGBT), ou até dos defensores das baleias, entre tantos e tantos outros que revelam a imensa diversidade humana que, felizmente e quando em liberdade de expressão, constitui a Humanidade. E muitos têm sido os que têm “feito lobby”, que é a expressão verbal que corresponde à sua ação, para obter vantagens ou conseguirem o apoio necessário às suas causas, com maior ou menor sucesso.
À partida e numa sociedade evoluída, sendo este adjetivo aqui sinónimo de uma democracia na plenitude do seu conceito, o lobby deve ser considerado normal e feito “às claras” até para não se confundir com “favorzinhos” ou “jeitinhos”. Mas é-o sobretudo porque revela que os indivíduos que compõem essa sociedade se interessam por causas que podem tornar-se públicas e agem num esforço conjunto de contribuir para um bem comum.
Os grupos organizados, empresas, organismos ou movimentos sociais, têm o direito e até o dever de se empenhar na defesa dos interesses que defendem ou das ideias que professam. Infelizmente, a classe política está fragilizada. A sua conduta sempre sob escrutínio, felizmente. E o jogo de vários governos a diferentes níveis, que se rendem por vezes a grupos para obter vantagens, faz do lobby não assumido, e não às claras como deveria ser, algo pernicioso e logo identificado com o abuso de poder, sobretudo o económico, com a corrupção e tudo o que há de mais deplorável no relacionamento humano em diferentes escalas.
É que o lobby em si não merece este retrato pejorativo com que é distinguido. A sociedade deve estar mobilizada para influenciar o poder público. Afinal de contas, o poder representa-a e foi por ela eleito. A aceitação do lobby enquanto prática está por isso limitada, julgo, ao uso democrático, transparente e ético dos instrumentos utilizados para esta influência. A corrupção, as “gratificaçõezinhas” e outros procedimentos não éticos devem ser vistos sob uma perspetiva legal e devidamente penalizados, e nada têm a ver com lobby ou até com o que muitas vezes “fazer lobby” implica, a comunicação, coisa diferente de propaganda.

18.11.14

Networking

Suponho que é quando tudo se torna mais difícil que nos procuramos uns aos outros. As redes são, por isso, formas de organização que congregam esforços evitando desperdícios, quer de energia humana quer de recursos materiais. As redes podem ser de pessoas, instituições, lugares ou atividades congéneres. Acontecem entre elementos que, com determinadas afinidades, é através de uma estrutura em que se cruzam interesses comuns que criam laços de cooperação. Por vezes com laços mais fortes entre uns do que entre outros, outras vezes com certos laços segurando como vigas e pilares todos os outros mais frágeis. E quando uma rede chega ao fim isso acontece normalmente porque morre pelo menos uma parte de cada um, da maioria ou até da totalidade dos nós que a compõem.
Networking é a palavra em inglês que se aplica à capacidade de estabelecer uma rede de contactos ou uma ligação com alguma instituição ou com alguém. É uma palavra também relacionada, mais uma vez, com o contexto empresarial e indica uma atitude de procura de contactos e parceiros para fazer progredir as pessoas e as instituições ou as empresas. Apesar de poder ser confundida por muitos com o vulgar e rasteirinho carreirismo, a networking não é uma atividade egoísta, em que alguém se quer aproveitar de outrem para o seu próprio bem. Deve existir, como dizia, um sentido de reciprocidade e o benefício deve ser mútuo, já que todos aprendemos sempre alguma coisa uns com os outros.
Muitas vezes também a confusão entre ambição e carreirismo aparece ligada à networking porque quanto melhor for a capacidade de alguém ou alguma instituição criar essas redes e mantê-las, dando de si e sabendo receber dos outros, maior é a sua probabilidade de se ser escolhido, e até indicado, para um cargo quando surge a oportunidade. É assim que algumas cidades, universidades ou associações de vária índole conseguem, por exemplo, liderar redes de, respetivamente, cidades, universidades ou associações que se juntam por terem determinadas características, objetivos ou missões em comum.
Praticar e promover a networking, ou rede de contactos e conhecimentos ou trabalho em comum, também não é usar o expediente da cunha, pouco recomendável em qualquer sociedade justa, porque a competência de quem participa numa determinada rede não está em causa. O que se procura é antes o conhecimento e reconhecimento de características e capacidades que essas instituições ou indivíduos têm e que, quando consultadas, podem avaliar, dar uma referência ou fazer uma indicação.
Afinal, o networking é o que começamos a ensinar às nossas crianças quando cuidamos da sua socialização e lhes mostramos o lado bom do relacionamento quer entre pares, quer com os outros que, estando há mais tempo ou conhecendo melhor este ou aquele assunto ou mundo, lhes possibilitam a escolha de crescer seguindo por caminhos que ou serão afins se houver afinidades, ou serão diferentes se houver incompatibilidades. 

11.11.14

Déjà-vu

Quando crianças absorvemos com muita atenção e curiosidade os relatos de episódios de vida dos mais velhos. Dou por mim a lembrar-me em particular de um relato das muitas viagens que a minha mãe começou a fazer, após os 25, o de abril e o de novembro. Tendo vivido intensamente a Revolução e o PREC, a senhora apressou-se a visitar a União Soviética acompanhada de fervorosos adeptos do regime em vigor aí então. Era uma excursão organizada pela Associação Portugal-URSS que agora se chama Associação Portuguesa de Amizade e Cooperação Iúri Gagárin. Talvez julgasse vir de lá tão maravilhada como Jorge Amado ou, no limite, apenas com um olhar mais crítico como Graciliano Ramos, autores brasileiros comunistas que a propósito de visitas semelhantes escreveram interessantes relatos: Jorge Amado escreveu O mundo da paz, em 1951, mantendo sempre a postura do militante obediente, já Graciliano Ramos viu a publicação das suas críticas serem altamente combatidas pelo aparelho partidário que, ainda assim, não conseguiu impedir a publicação de Memórias do Cárcere em 1953 e Viagem em 1954. Certo é que a senhora minha mãe chegou um bocado “debotada” nas suas convicções mais avermelhadas, não só pelo que efetivamente viu e testemunhou, como pelo convívio com companheiros de viagem que vieram de lá a dizer coisas do género: “as picadas dos mosquitos soviéticos não causam tantas comichões como os daqui” ou “o frio é mais suportável lá do que cá”, e outras que tais, parecendo ter regressado de uma nova Atlântida ou da Ilha da Utopia. Como se tudo o que lá existisse fosse apenas e só o estado final e mais avançado a que Humanidade poderia chegar.
Ora existe um termo, déjà-vu, importado do francês, que traduzido à letra dá em “já visto”, e que se aplica ao conceito que descreve uma experiência que muitas pessoas têm de sentir que já se tinha presenciado anteriormente uma situação que está a decorrer no presente. O déjà-vu é muitas vezes referido na cultura popular. No cinema, por exemplo, a trilogia Matrix mostra o déjà-vu como uma alteração percetível num sistema a meio caminho entre o real e o virtual e Déjà Vu é também o título de um filme protagonizado por Denzel Washington, em que o fenómeno é explicado sob a forma de avisos enviados do passado e de pistas para o futuro. Esta palavra parece até condensar uma outra expressão que ouvimos muito em português: o “eu já vi este filme”.

Pois o que me parece é que esta Évora comunista relatada pelo executivo e seu aparelho - que a maioria dos eborenses, que quiseram votar, democraticamente elegeram - é um episódio de déjà-vu que só pode ter explicação quando revisito as memórias e o relato daquela viagem à União Soviética de 77. O lixo que transborda dos caixotes desta Évora comunista é agora inodoro; o branco dos muros é muito mais branco quando a trincha é comunista; os voluntários têm muito mais vontade porque Évora é comunista; as ervas nos passeios agora comunistas são até bem decorativas; os espetáculos que apoiam a atividade cultural da Câmara comunista são agora todos dignos de transmissões diretas em canal aberto; o Salão Nobre comunista é agora muito mais nobre e o Teatro Garcia de Resende voltou a ser municipal e aberto sem dificuldades nenhumas pelos comunistas; as palmas comunistas são sempre arrancadas do fundo dos corações dos eborenses com muito mais sinceridade e emoção. Isto só para mencionar alguns dos muitos exemplos que poderíamos encontrar. Um arrepiante déjà-vu.

4.11.14

Budget season

Budget é um termo da língua inglesa que significa orçamento e que é frequentemente utilizado no meio empresarial em inglês para referir o orçamento periódico feito por uma empresa, normalmente para um ano, onde são inseridas variáveis de custos, as chamadas receitas e despesas, definindo um plano de contas. Sendo assim, o budget é normalmente o plano base para início da atividade num novo ano e, apesar de ser um documento técnico, acaba por tornar-se um plano estratégico, não só para durante um período determinado, como para um planeamento futuro.
Assim sendo, o orçamento de um governo objetiva na prática o planeamento das ações de quem governa, os seus objetivos, as suas metas e prioridades, respondendo àquelas que são as necessidades e, talvez até expetativas, da comunidade de eleitores, fazendo um equilíbrio entre o que está programado obter como receita e quais as despesas que deverão ser autorizadas. Podemos perguntar-nos, então: não deveriam os cidadãos ser cabalmente esclarecidos de todo este planeamento que se faz com o dinheiro de todos nós? É que basta olhar para os “calhamaços” de folhas de um qualquer orçamento municipal, para falar num nível que conheço, que nos interessa e que ainda assim, não sendo o orçamento de um Estado, tem um volume razoável de documentação, para se perceber como será precisa quase uma licenciatura na área para entender este exercício do poder governativo. E mais ainda quando sabemos que, contas feitas, as receitas e as despesas têm de ser iguais, pois este instrumento técnico prevê um cenário ideal: nem uma autarquia pode ter lucro que não seja aplicado revertendo para o investimento no bem-estar dos seus munícipes, nem pode ter prejuízo sob pena de, ao se endividar, o que legalmente parece ser proibido, ter de cortar em várias áreas. São essas áreas onde se investe quando há dinheiro e onde se corta quando não há que dão margem de manobra à ação política.
Um orçamento público municipal é um instrumento que pode e deve ser um elo entre quem tem o poder executivo e os munícipes, e não apenas entre o executivo e os que trabalham diretamente para esse executivo e que não têm só por isso o poder de representar as escolhas desses munícipes, já que estes elegeram o executivo mas não estão presentes no quotidiano do trabalho numa Câmara ou na própria organização dos seus serviços. Isto não significa desconsiderar esses serviços, antes pelo contrário, já que ao envolvê-los privilegiadamente no processo poderá significar torná-los quase cúmplices de um qualquer possível incumprimento do previsto num orçamento. Haverá seguramente, numa gestão, momentos mais virados para as questões internas que, aí sim, é importante de facto envolver os diretamente interessados.
É que importa, acima de tudo, tornar bem claro que uma Câmara Municipal, mesmo quando respeita, como inquestionavelmente acontece num estado de direito, os seus próprios funcionários, não trabalha para si própria mas para todos os munícipes. E que é sobretudo importante fazer sentir aos munícipes que o que é investido na própria máquina da Câmara deve reverter, e em muitos casos reverte, a favor de todos os outros munícipes.
Um orçamento é a oportunidade de ser um instrumento de transparência, de intervenção e de articulação, tornando-se transparente, eficiente e eficaz muito pelo facto de expressar ações de governo que traduzem as necessidades da sociedade em forma de ações efetivas e que respondam aos principais problemas da comunidade. E é por isso que, a nível local, e no fim de avaliadas que estão várias experiências quer a nível nacional, quer noutras democracias internacionais, já vai sendo tempo de envolvermos de facto as pessoas na política a partir da construção do orçamento. Estão já bem estudados e disponibilizados a quem se interessar os possíveis modelos a adotar em função de cada realidade. Falta só vontade política para o fazer.