5.12.23

O preço do azeite

Aproxima-se o Natal, o período em que mais disparatadamente se usa o dinheiro pelo mundo ocidental. Também é a data que relembra que o Povo judeu vivia numa espécie de colonato lá no lugar da Palestina. Mas adiante, que hoje não me apetece falar desta tragédia, mas de dinheiro e do que está acontecer ao que se faz com o fruto das oliveiras, aquelas árvores cujos raminhos no bico de uma pomba representam a paz, segundo Picasso.

Quem vende “mete a unha” e aproveita o impulso desatinado de quem compra como se não houvesse amanhã. Sendo que os amanhãs mudam muito de família para família, essa instituição que, já agora, também na época das Festas, costuma ir ao centro das atenções mais ponderadas. Nem que seja mesmo só porque é Natal, em modo tréguas, o que até já nem vai servindo de desculpa a vários níveis.

Certo é que, ainda o São Martinho vinha longe, e já se reparava que o preço do azeite atingia valores proibitivos. E mesmo com o IVA a zero decretado pelo vilipendiado Governo. Nem as misturas mais manhosas que desvirtuam o “ouro líquido” se podiam, nem podem, considerar baratas.

Ora, quando se percebe destes movimentos da economia como de lagares de azeite, o mistério adensa-se. Procuram-se provas, suspeita-se das costumadas alterações climáticas, desconfia-se de álibis, como a de um agricultor que ouvi e achava o fenómeno tão incompreensível.

Parece que nos acompanham na infelicidade os nossos países-primos, por parte do lado da família mediterrânica. Provavelmente, para os países de outras costelas, o azeite não terá a importância que tem para nós, pelo que, para já, ainda não se os ouviu respingar.

Por muito que seja interessante obter explicações consistentes e criteriosas sobre o fenómeno, o que tentei, sinto-me como uma grande parte do eleitorado, provavelmente até o que só vai à mesa de voto quando não tem mais nada de interessante para fazer: o que eu quero é que alguém ponha mão nisto.

Mas com o azeite eu não tenho qualquer papel na resolução do problema, já que o boicote ao consumo se resolve naturalmente: se não há aquilo com que se compram os melões, também não há para comprar azeite.

Se a minha acção contasse, como na Democracia conta através do voto, garanto-vos que haveria de tomar toda a atenção a quem me explicasse, para além da promessa, como se chegou a estes preços e o que proporia, com argumentos sérios, para ir resolvendo o problema e evitar que voltasse.