Cruzei-me com
uma notícia que anunciava a constituição de uma Comissão na cidade da Guarda para
preparar a candidatura a Capital Europeia da Cultura. Chamou-me à atenção um
parágrafo que dava conta do conselho oferecido pelo Secretário de Estado da
Cultura, Miguel Honrado, olimpicamente ignorado pelas já 12 candidatas. Honrado
terá dito no mês passado, em Coimbra, que fazia todo o sentido a agregação de
cidades para se candidatarem a Capital Europeia da Cultura, pois este tipo de
projectos tem, cada vez mais, escalas regionais.
O conselho
pareceu-me bastante assisado e a fazer muito sentido para uma região como a do
Alentejo, onde num fantástico cenário do seu Norte ao seu Sul, somos muito
(demasiado) poucos os que cá vivemos, até para podermos constituirmo-nos como
um grande público, muito menos se partidos em parcelas. E imaginei como seria
interessante um ano de 2027 a circular por aí, quanto mais não fosse pelo
Alentejo Central, para assistir a seguramente muito bons eventos culturais.
Claro que
também achei curiosa saber-se da existência de uma Comissão lá para a Guarda e
desconhecer-se não só se por aqui também há uma e quem a compõe, como se
continuar à espera de um prometido plano estratégico para a Cultura em Évora,
há pelo menos quatro anos. Bem como os novos Regulamentos de Apoio aos Agentes
Culturais, que se desejaram liminarmente revogados no final de 2013, revelando,
afinal, que estes não eram nem assim tão maus, nem era assim tão urgente
mudá-los para que uma nova Primavera chegasse aos palcos da cidade e os amanhãs
cantassem de forma cristalina, como “só” acontece agora.
Mas, atenção,
que esta crónica não é para dizer mal da hipótese de Évora conseguir a sua
intenção e sair vencedora deste concurso, caso já haja quem esteja a pensar
nisso. Só me ocorreu que o sucesso poderia ser mais garantido se se seguisse o
tal conselho. Mesmo sabendo até que os prémios ligados à Cultura tenham sido,
no passado, menosprezados por uma certa Évora. Se calhar agora até ia dar jeito
apresentar o galardão da Sociedade Portuguesa de Autores de 2012... E a
questiúncula da altura não deve ter sido motivada por questões políticas mas
politiqueiras, já que o concelho vencedor da edição deste ano do Prémio foi o
Seixal, município comunista. É entregue hoje, novamente no auditório do Centro
Cultural de Belém. Recordo, na altura, ter na própria Gala já mencionado que a
programação não teria sido possível sem colaborações, nem redes. Como me lembro
de que o grande argumento para menosprezar o Prémio (chegado até pela pena de
um que se diz jornalista da nossa praça ao jornal “Avante!” num artigo
intitulado “Um prémio para quem não merece”) era a dívida de subsídios aos
agentes culturais. Posso imaginar que o problema esteja agora sanado e, como
tal, os agentes culturais já se sintam bem aconchegados. E que se Évora não
ganhar é porque?...
Portanto, como
eu não sou dos que faz coro com os que dizem mal dos eventos culturais em
Évora, apesar de naturalmente gostar mais de uns do que de outros, só me resta
dizer que com uma “parada” tão alta como a que se pôs para 2027, se esta não
for ganha, bem pode quem se disse sempre o supra-sumo da gestão cultural
autárquica, meter a viola no saco e ir cantar para outra freguesia...ou
concelho. O que, já agora, não é coisa inédita, nem que, aliás, o Povo eleitor
leve muito a mal, apesar das conversas, recorrentes e estereofónicas, que se têm
de ouvir sobre o “não ser de cá”.